terça-feira, 3 de junho de 2008

Solidão à tarde

Gastava tempo pensando no quanto me demoraria para achar algo que pudesse desmentir àquela beleza. Um exercício totalmente vão, pois, talvez nunca fosse possível chegar a algum tanto que me desencorajasse de seu encanto. E ainda assim, ainda que me deparando com qualquer diminutivo capaz de negar-lhe o absurdo, este foco inútil dificilmente me cegaria do brilho daquele sorriso, que mal cabia nela, de tão pequena. Mas que de outra não poderia emanar, de tão única.
Pensando que disfarçava bem aquele trejeito debochado tão latente, mostrava-se por dentro o que os distraídos não enxergavam por fora. E nessa ternura fugitiva, nos seus risos fora de hora e nos momentos de braveza nas horas mais certas, me seduzia a ser eu através disso tudo. E naquelas noites cheias de estrelas que distraíam a todos, era aquele pequeno astro que me encadeava e tirava-me de órbita. E me fazia rir como quem tempos já não fazia.


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Mi Confesion - Gotan Project - 2006

2 comentários:

Loredana disse...

Esse texto é belo.

ps.: saudade do meu bruzudango.
(L)

Anônimo disse...

Gostei. Cheio de significados e entrelinhas.
Bonito :)