domingo, 8 de junho de 2008

Não quero luxo, nem lixo


No desvairio dessa Paulicéia, vou, aos poucos, me acostumando com o cotidiano paulistano enquanto os velhos hábitos e costumes das terrinhas tropicais passam se tornar lembranças boas - e sempre quando as penso me vem o gosto de saudade, mas chega de saudade! Afinal, é preciso concentrar forças para não acabar dispersando o minguado contingente de neurônios que possuo no trabalho de cognição e reconhecimento da nova fronteira. De outra forma, eu correria sérios riscos de questionarem a minha capacidade mental em razão da cara de deslumbre com certas peculiaridades da terra de céu cinza.

Circulando por essa cidade, me peguei pensando um pouco sobre o consumo de bens de luxo. São Paulo é um estado de economia monstra e forte. Há muito dinheiro circulando, muita grana no bolso de boa parte da população, e é preciso dar vazão a toda essa riqueza. O luxo e a elitização já não se expressam de maneira quantitativa. Não pode mais quem mais tem. Esbanjamento ostensivo é, definitivamente, coisa de emergente. Hoje, o consumo não é apenas uma expressão de aparência, mais do que isso, é uma forma de expressão cultural. A estética e a sofisticação afetaram a prática do consumo. Como a moda, as novas formas de consumo são dependentes de demandas emocionais.

Ontem, por exemplo, estava eu, topetudo e agasalhado, caminhando e cantando e seguindo a canção, quando me deparei com uma “quitanda” de luxo, onde se preparavam saladas de fruta. Mas não eram reles saladas, 'meu'. Imagina! Eram feitas com frutas selecionadas pelo próprio cliente que escolhia cada peça a ser descascada, todas expostas numa vitrine. Como escolhas de lagostas, ou algo do tipo. O sabor de uma salada de fruta eu sei colé, mas qual o sabor do luxo?

E assim foge-se da conta restaurantes com sushis de pescada cultivadas em água salgada artificial enriquecida com minerais; agasalhos feitos ‘do pêlo rei de carneiros geneticamente modificados do Afeganistão’ (pra quem conhece aquela excelente esquete do terça Insana, abaixo), etc. Como diria na minha terra: “É o fresco, é?”. Mas tudo em nome da exclusividade. Isso tudo são coisas dos Jardins, coisas de São Paulo.








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PDA ( We just don´t care) - John Legend - 2006

Um comentário:

Loredana disse...

Excelente reflexão sobre a sociedade de consumo,o capitalismo mesmo.E nada melhor do que Sao Paulo pra exemplificar.
excelente!
=*