Nesses dias de comemoração de cinquenta anos de banquinho e violão, ainda que a umidade do ar não facilite o exercício, respirar bossa nova vinte e quatro horas por dia não é difícil. A celebração popular das bodas de ouro do brazilian jazz é, digamos, a oportunidade que temos de assumir – publicamente - a predileção por um estilo musical que comumente deixamos para entoar baixinho em madrugadas de romantismo e vaga melancolia. Ou para encorpar mensagens de texto endereçadas para a pessoa amada (né?). Pois é.
Além de toda a história que eu pude compartilhar um pouco no post anterior, uma frase teimou em minha mente uma semana inteira depois que fui na tal exposição. Dizia-se em algum dos curtas a que assisti que “Vinícius [de Moraes] foi o único poeta que viveu como poeta”. Achei bonito. Bonito e bem razoável (Tem imagem mais canastrona de poeta boêmio que a de Vinícius com whisky na mão cantando bossa pra gringo ver? Não.) E ao passo que me vinha à mente essa máxima, era automaticamente remetido aos idos de 2002 (idos mesmo, pra soar beeeem direto do túnel do tempo). Data do último ano do colegial. ‘Terceirão’.
Foi nesse ano, pela primeira vez de muitas, que experimentei a sensação de sentir-me um velho num corpo de garoto. E não foi porque em novembro daquele ano completava dezoito anos. Não. Isso seria até patético de tão banal. Me reconhecia fora de tempo pois naquele ano em que os pré-adolecentes ouviam funk, axé e – provavelmente – muito forró, de encontro com alguns 5 ou 6 amigos(as) com afinidade em comum – e comumentente pré-vestibulandos – ouvíamos Vinícius, bebíamos whisky, não resistindo à boêmia que nos deixava aptos - mas nem tanto firmes - para tomar banho de mar embreagados no nascer do sol, sempre entoando os sonetos do poeta do amor. Também fomos poetas e vivemos como poetas.
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Samba da Benção - Vinícius de Moraes - 1962