sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Cotidiano, nº 03

Para mim ainda eram altas horas da madrugada quando ouvi, vinda não sei de onde, uma campainha estridente que só faltava gritar meu segundo nome. ‘Deve ser dia de feira’ – pensei, pois ouvi essa sirene tocar sem parar três longas vezes, duas delas, pelo menos, no meu sonho. Preferi não acreditar e sem forças, escorreguei pra de volta do edredom, convencido de que tinha que ser uma daquelas preguiçosas manhãs de sábado. É quando o alarme soa mais uma interrompível vez. Me forço, então, a fazer algumas contas e descubro que o meu sábado ainda era sexta-feira. Paro, provoco mais meus neurônios para que as sinapses se ativassem em busca de me ajudar num bom enredo que me autorizasse continuar assim, dormindo e deixar o mundo pra depois. Em vão. E é percebendo que seria inútil convencer a mim e aos chefes que estaria putamente doente, que se chega a hora de passar para o segundo estágio, de preguiçoso sonâmbulo para metódico mal humorado. Nessa hora, ainda atrás das benditas sinapses, sou capaz, à base de muitos resmungos, das mais meticulosas tarefas diárias. Em questão de minutos, lavo, passo, troco de roupa. Uma, duas, três vezes. Escovo, penteio, desmancho, escovo, penteio. Lista de afazeres, café para agora, lanche para depois. Três ou duas frutas, descascadas, picadas, processadas e suplementadas. Chá em pó, vitamina em gel. Leite fervendo, energil efervecendo. Mel, sete ervas – pra não perder o contato com o ‘natural’. Tudo devidamente intercalado com as melhores caras feias matinais jamais antes expressas. De repente, durante alguns bom-dias de sempre, acordo! Térreo. O sol pingando ni’mim e, que surpresa!, mesmo longe da data oficial, a primavera chegando com um belo (e estranho?) dia pra se ter alegria!

2 comentários:

Elfen Queen disse...

é quase o meu cotidiano (tirando o contato com o natural)

Anônimo disse...

Olha que eu ja vi uma dessas caras feias matinas jamais expressadas...

saudades!