
play list: Give it 2 me - Paul Oakenfold Edit - 2008
Dois amores que tenho na vida, aos quais sou totalmente fiel e responsável: minha exigente, sedutora e boêmia sexta-à-noite e o meu extrovertido e hiper-ativo sábado-à-tarde. São dois amores exigentes. E pela imensa alegria que eles me proporcionam, me sinto mais do que na obrigação de fazer com que – uma vez por semana – eles passem por momentos inesquecíveis. Como todo bom amante, presentear nossos amores, só faz parte.
Os amo tanto que dificilmente não conseguirei não falar deles, o significado de cada olhar ou pequenos defetitos irressistíveis.
Se não fosse o jornal de véspera (todas as sextas é dia do Guia da Folha, o suplemento do jornal com o roteiro dos melhores programas de entretenimento, gastronômicos e culturais do fim de semana que acontecem na cidade de São Paulo) dificilmente lembraria que no último domingo (05) era chegado o dia do Sufrágio Universal. Apesar do nome apocalíptico, não era a data marcada para o fim dos tempos, ou talvez sim. Graças à lei municipal da Cidade Limpa (mais restritiva e eficiente que a lei eleitoral federal) que prevê alguns limites à atividade publicitária no período eleitoral, ‘respirei’, ou melhor - usando um verbo mais apropiado para região, atravessei praticamente incólume os meses que antecedem o primeiro domingo de outubro de ano eleitoral. Fui livrado do flagelo típico do período: santinhos, outdoors, faixas, banners, letreiros e carros de som que tanto concorrem com os horizontes, a arquitetura de uma cidade, os sinais de trânsito, os postes de iluminação e, principalmente, o sono extended mix dos meus domingos.
Nessa nova era de campanhas para os cargos executivos e legislativos, a rebordosa eleitoral se resume ao tête-à-tête: visita de comissários, alguns e-mails auto-promocionais, ligações de telemarketing e, há quem relate, mensagens telefônicas gravadas pelo Presidente Lula.
A Folha de São Paulo me fez lembrar da minha obrigação no encerramento do primeiro turno que acompanhava com honesto interesse e o mais despreocupado compromisso, afinal só teria que, no domingo, justificar meu voto.
Mas àqueles que igual a mim distraíam-se para o domingo reservado para o exercício cívico e – dessa vez, de mim diferentes – não se interessavam pelo Guia da folha, não havia problema. No dia marcado, a cidade estava aflita, repleta de trios-elétricos, bandeiras, chuva de santinhos - em especial do candidato da situação (pai do projeto de Lei Cidade Limpa), lembrando aos eleitores do seu compromisso compulsório. Não havia como se esquivar.
E ainda que eu buscasse me enxergar num futuro de civilidade com os avanços legais, a bagunça organizada da cidade, o carnaval fora de época do colégio eleitoral, com bandeirolas, confetes de santinhos, criminosos não disfarçados e disfarçando a compra de votos, me punham de volta ao passado. Na época em que garoto acompanhava minha mãe para depositar o voto na urna e brincar com os santinhos na quadra do colégio. É... é difícil falar em mudanças.
Hoje me sinto feliz e pleno. Também, não era para menos, afinal de contas, estou fazendo três meses de namoro. Pena que eu só descobri isso hoje, sendo mais preciso, na hora do intervalo para o almoço, sem tempo para algum presentinho. Não que eu tenha deixado passar uma data dessas tão importante, só não sabia sequer que havia algum bem para chamar de meu.
“Oi Caio, tudo bem?”
Meu nome não é Johny Caio!, mas com que diabo ela fala, senão eu? Como não havia ninguém por perto, era impossível ignorar àquele chamado da menina com strass no incisivo lateral esquerdo (minha esquerda) que me sorria largamente com um olhar de intimidade. Só havia um único “Caio” solitário na mesa do refeitório: Eu! Confesso, fiquei tentado a não responder e ignorar à figura efusiva voltando a atenção para o Vale a Pena Ver Dinovo (só pelo prazer de não ser simpático em proporções recíprocas quando convém ser, isto é, Carão!), mas era ambiente de trabalho, então, vá lá...
“Meu nome não é...”
“Você tem uma cara de Caio. Desde quando te vi no andar de Operações, disse que você seria Caio” emendou a menina, sem tempo para as devidas identificações.
Eu sorri de lado, para não escapar algum feijão ou arroz que tinha esquecido de continuar a mastigar. E mesmo antes de engolir o ‘bolo’, o alimentar, ela continuou o “diálogo”. Disse o quanto achava ‘da hora’ meu quase-irreparável moicano, e que me preferia sem barba. Que meu diastema era um charme, mas que eu comia muita beterraba. Que fazer todo dia um lanche às 11 da manhã, atrapalhava meu almoço. E que era preu me cuidar – essas coisas que diz toda mulher, mais da coluna, e ao atravessar à avenida fora da faixa, como eu fazia. Tudo conforme uma cuidaosa namorada de longa data deveria ser.
Por minha vez, lamentei desconhecer os seus hábitos coporativistas e alimentares, mas pedia desculpas. “Sabe como é, coisas de homem...”. E foi tudo.
“Mas fala mais, fala alguma coisa! Quero ouvir esse seu sotaque não-sei-da-onde”.
Mas não havia mais tempo. Era preciso bater o ponto.
E esse foi nosso primeiro e último encontro. Mais tarde descobri que era o último dia de expediente naquele banco onde prestava um trabalho terceirizado. De volta à sede da empresa, sem oportunidade de revelar a identidade do Caio, acabamos a relação por alí mesmo. Digo, por aqui.
Passada a primeira metade do ano, vão-se dos cinemas todos os blockbusters de inverno e verão norte-americano e a exibição maciça e contínua de indicados ao Oscar. É chegada a vez do cinema nacional. Para mim é sempre muito bom ir ao cinema assistir a filmes nacionais. Por uma, que dá um ar de maior grandiosidade para o negócio, o que as vezes é preciso para dar uma forcinha quando o filme acaba não sendo lá essas coisas. Por outra, muitos desses são realmente grandes filmes e acabam fazendo história (o que foi Tropa de Elite ano passado?), e nas salas lotadas de pipocas e aplausos, nos tornamos assim testemunhas oculares e cúmplices de todo esse ‘mexido’.
E esse ano, tem sido um ano e tanto. Domingo repassado, o mais documentário, Mistério do Samba. Esse último foi o dia para assistir Linha de Passe, do cineasta Walter Salles (o mesmo de Central do Brasil). E ainda essa semana – assim espero! – vai ser a vez da produção do maior cineasta brasileiro da atualidade, Fernando Meirelles, Ensaio sobre a cegueira. Não dá pra esperar terminar de ler o livro! Na falta de palavra mais apropriada, é muito Bafo! pra um filme só. Não dá pra deixar pra depois. Nem pra amanhã.
Principalmente depois do convite que o Estado propôs aos dois diretores: virar críticos por um dia. Fernando Meirelles assistiu a Linha de Passe, a pedido do jornal, e escreveu sobre o filme de Salles. Por sua vez, Walter Salles ofereceu sua resenha sobre a Cegueira, filme de Meirelles. Não dá pra não ler: Ensaios cruzados, passes trocados.
(Caetano, num momento aristotélico , explicando a origem e fonte inesgotável de suas músicas, na abertura do livro Sobre as letras, da ed. Cia das letras)
E por aqui é mais ou menos tudo isso. Ou não.
Para mim ainda eram altas horas da madrugada quando ouvi, vinda não sei de onde, uma campainha estridente que só faltava gritar meu segundo nome. ‘Deve ser dia de feira’ – pensei, pois ouvi essa sirene tocar sem parar três longas vezes, duas delas, pelo menos, no meu sonho. Preferi não acreditar e sem forças, escorreguei pra de volta do edredom, convencido de que tinha que ser uma daquelas preguiçosas manhãs de sábado. É quando o alarme soa mais uma interrompível vez. Me forço, então, a fazer algumas contas e descubro que o meu sábado ainda era sexta-feira. Paro, provoco mais meus neurônios para que as sinapses se ativassem em busca de me ajudar num bom enredo que me autorizasse continuar assim, dormindo e deixar o mundo pra depois. Em vão. E é percebendo que seria inútil convencer a mim e aos chefes que estaria putamente doente, que se chega a hora de passar para o segundo estágio, de preguiçoso sonâmbulo para metódico mal humorado. Nessa hora, ainda atrás das benditas sinapses, sou capaz, à base de muitos resmungos, das mais meticulosas tarefas diárias. Em questão de minutos, lavo, passo, troco de roupa. Uma, duas, três vezes. Escovo, penteio, desmancho, escovo, penteio. Lista de afazeres, café para agora, lanche para depois. Três ou duas frutas, descascadas, picadas, processadas e suplementadas. Chá em pó, vitamina em gel. Leite fervendo, energil efervecendo. Mel, sete ervas – pra não perder o contato com o ‘natural’. Tudo devidamente intercalado com as melhores caras feias matinais jamais antes expressas. De repente, durante alguns bom-dias de sempre, acordo! Térreo. O sol pingando ni’mim e, que surpresa!, mesmo longe da data oficial, a primavera chegando com um belo (e estranho?) dia pra se ter alegria!
de Lula Buarque de Hollanda e Carolina Jabor, que retrata o cotidiano e as histórias da Velha Guarda da Portela e a pesquisa que a cantora Marisa Monte realizou recuperando composições dos anos 40 e 50 que deram origem ao Universo ao Meu Redor. Foram necessários dez anos de pesquisas, entrevistas, filmagens e montagem para desvendar o enigma de uma das mais ricas histórias do mais brasileiro dos ritmos musicais.
Não sabia se era para comemorar o lançamento público, ou, simplesmente, lançar ao público uma comemoração em que se é impossível não aderir; mas o fato é que promoveram para a ocasião um encontro no Sesc Pinheiros (SP) para apresentação da Velha Guarda da Portela com os cantores Diogo Nogueira, Teresa Cristina e Marisa Monte. Irresistível! O clima era de se estar num recanto do subúrbio carioca. E até aqueles notórios paulistas doentes do pé, se arriscaram em, pelo menos, batucar as palmas das mãos.
O filme, ainda não vi. Mas esse encontro com samba no pé e cervejinha na mão traduz bem o que se esperar: uma falta mais que justificada!
Bom dia, caros amigos! Caras, na verdade...
tes de onde brotam os saborosos morangos (favor, levar o chantilly...) da cidade da região serrana, na Chácara da Fan. (Não necessariamente nessa ordem). Reúnam suas botas!
Às crianças de plantão, para os momentos de lazer, peço a colaboração em levar jogos de entretenimento lúdico, como baralhos, fichas de poker, raquetes e bolas, das de futebol, futsal, futebol de areia ou qualquer outro jogo de trave. Abram o baú!
Mais uma que lembra os bons tempos de divas do soul/jazz music como Erykah Badu ou Lauryn Hill. Mais um grande gogó e boa parêa à rehabilitadíssima Amy Whinehouse. Mais uma grande cantora de sotaque estrangeiro – dessa vez, Nigéria - direto do mercado europeu pra fazer contraponto à cultura hip hop americana. Mais uma rumo ao topo das paradas. Nneka Egbuna poderia até ser considerada tudo isso, caso fosse 'só' mais uma.
Lógo aqui você pode conferir a lista dos campeões em todas as categorias.
Veja você onde é que o barco foi desaguar. “- A gente só queria o amor”. Deus parece, à vezes, se esquecer.
“- Ah, não fala isso, por favor!”
Esse é só o começo do fim da nossa vida. Deixa chegar o sonho. Prepara uma avenida. “- A gente vai passar”.
Veja você! Como é que tudo foi desabar? A gente corre pra se esconder e se amar, se amar até o fim. Sem saber que o fim já vai chegar.
“- Deixa o moço bater que eu cansei da nossa fuga. Já não vejo motivos pra um amor de tantas rugas”.
“- Não ter o seu lugar...”
“- Abra a janela agora!”
Deixa que o sol te veja. È só lembrar que o amor é tão maior, que estamos sós no céu.
“- ... abre as cortinas pra mim? ... que eu não em escondo de ninguém”.
O amor já desvendou nosso lugar. Agora está bem.
Nesses dias de comemoração de cinquenta anos de banquinho e violão, ainda que a umidade do ar não facilite o exercício, respirar bossa nova vinte e quatro horas por dia não é difícil. A celebração popular das bodas de ouro do brazilian jazz é, digamos, a oportunidade que temos de assumir – publicamente - a predileção por um estilo musical que comumente deixamos para entoar baixinho em madrugadas de romantismo e vaga melancolia. Ou para encorpar mensagens de texto endereçadas para a pessoa amada (né?). Pois é.
Foi nesse ano, pela primeira vez de muitas, que experimentei a sensação de sentir-me um velho num corpo de garoto. E não foi porque em novembro daquele ano completava dezoito anos. Não. Isso seria até patético de tão banal. Me reconhecia fora de tempo pois naquele ano em que os pré-adolecentes ouviam funk, axé e – provavelmente – muito forró, de encontro com alguns 5 ou 6 amigos(as) com afinidade em comum – e comumentente pré-vestibulandos – ouvíamos Vinícius, bebíamos whisky, não resistindo à boêmia que nos deixava aptos - mas nem tanto firmes - para tomar banho de mar embreagados no nascer do sol, sempre entoando os sonetos do poeta do amor. Também fomos poetas e vivemos como poetas.
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Samba da Benção - Vinícius de Moraes - 1962
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Samba de uma nota só - Tom Jobim - 1959
Na terra dos que andam de quatro, o hábito se tornou natureza. De tanto engatinharem, acabaram congestionando a cabeça. Lá, onde a bunda fez-se paixão nacional, como em todo lugar, as pessoas acabavam sempre muito distraídas correndo atrás do próprio rabo. Defendiam com intransigência a confraria de pessoas que viviam de rabo pro ar, ao mesmo tempo em que estigmatizavam e rejeitavam àqueles que queriam ser diferentes pelo fato da desigualdade por em risco sua própria identidade. Eram quadrúpedes pois não tinham envergadura. Moral.